Terça-feira, 8 de Junho de 2010
Índios Fazem Devolução da Bíblia em1985 – Para João Paulo II
Esta matéria foi adicionada a nossas postagens por tratar-se de um fato muito relevante na cultura religiosa dos Índios Bolivianos.
LA PAZ – Os índios dos Andes e da América decidiram “aproveitar a vi sita” do Papa João Paulo para devolver-lhe a Bíblia, pois, “em cinco séculos, ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça”, segundo uma carta de dirigentes indígenas bolivianos enviada ao Sumo Pontífice. “Por favor, leve a sua Bíblia e a dê aos nossos opressores, cujos corações e cérebros precisam mais de seus preceitos morais”, acres centam os índios na carta enviada ao Papa, que foi divulgada ontem em La Paz, assinada por Máximo Flores, do Movimento Índio do Kallasuyo (Aymara) e Evmo Valeriano, do Partido Índio (Ay mara) e Ramiro Reynaga, do Movi mento Índio Tupac Katari (Kheswa), representando as comunidades da Bolívia e do Peru.
Reynaga disse que quando o Papa se encontrar em Cuzco, capital do anti go império Inca, os índios lhe devol verão os evangelhos levados por colo ni za dores para oprimir os povos ameri canos, e destruirão publicamente seus vestidos “ocidentais” para vestir seus trajes típicos. Ao tornar pública a carta ao Papa, o dirigente índio disse que “co mo parte do intercâmbio colonial imposto, recebemos a Bíblia, que foi a arma ideológica do assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e matava corpos de índios, de noite se tornava a cruz que atacava a alma indígena”.
A carta destaca que os índios que podem saudar o Papa João Paulo quan do chegar ao território de Tawan tinsuyu, milenar por manter os pre ceitos de paz e humanidade, e acres centa: “Apesar de nossa enorme quanti dade de minerais, petróleo, campos de plantação e outras riquezas, somos povos famintos, doentes, ignorantes, fanáticos por esta ou aquela seita, reli giosa ou anti-religiosa”.
Em seguida, afir ma que desde a chegada de Colombo à América, impõe-se uma cultura, um idioma, uma religião, alguns valores que correspondiam à Eu ropa, a mesma que gerou tanto o co munismo totalitário quanto o capitalismo injusto.
E agora, afirma o documento, “Sua San tidade vem visitar e abençoar o opres sor estrangeiro, aquele que des fru ta o sofrimento alheio ou vem visitar o povo natural oprimido, aquele que so fre?” As contradições não somente acon tecem entre o comunismo e o capi talismo ou entre a direita e a esquerda, mas também “na alternativa política vital, primeira e necessária, que está for mada por duas opções: liberdade dos povos contra o colonialismo eu ropeu”.
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Abril de 2009, tem como fonte o Jornal Estado de Minas (3-2-85).
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
Índios Fazem Devolução da Bíblia em1985 – Para João Paulo II
Esta matéria foi adicionada a nossas postagens por tratar-se de um fato muito relevante na cultura religiosa dos Índios Bolivianos.
LA PAZ – Os índios dos Andes e da América decidiram “aproveitar a vi sita” do Papa João Paulo para devolver-lhe a Bíblia, pois, “em cinco séculos, ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça”, segundo uma carta de dirigentes indígenas bolivianos enviada ao Sumo Pontífice. “Por favor, leve a sua Bíblia e a dê aos nossos opressores, cujos corações e cérebros precisam mais de seus preceitos morais”, acres centam os índios na carta enviada ao Papa, que foi divulgada ontem em La Paz, assinada por Máximo Flores, do Movimento Índio do Kallasuyo (Aymara) e Evmo Valeriano, do Partido Índio (Ay mara) e Ramiro Reynaga, do Movi mento Índio Tupac Katari (Kheswa), representando as comunidades da Bolívia e do Peru.
Reynaga disse que quando o Papa se encontrar em Cuzco, capital do anti go império Inca, os índios lhe devol verão os evangelhos levados por colo ni za dores para oprimir os povos ameri canos, e destruirão publicamente seus vestidos “ocidentais” para vestir seus trajes típicos. Ao tornar pública a carta ao Papa, o dirigente índio disse que “co mo parte do intercâmbio colonial imposto, recebemos a Bíblia, que foi a arma ideológica do assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e matava corpos de índios, de noite se tornava a cruz que atacava a alma indígena”.
A carta destaca que os índios que podem saudar o Papa João Paulo quan do chegar ao território de Tawan tinsuyu, milenar por manter os pre ceitos de paz e humanidade, e acres centa: “Apesar de nossa enorme quanti dade de minerais, petróleo, campos de plantação e outras riquezas, somos povos famintos, doentes, ignorantes, fanáticos por esta ou aquela seita, reli giosa ou anti-religiosa”.
Em seguida, afir ma que desde a chegada de Colombo à América, impõe-se uma cultura, um idioma, uma religião, alguns valores que correspondiam à Eu ropa, a mesma que gerou tanto o co munismo totalitário quanto o capitalismo injusto.
E agora, afirma o documento, “Sua San tidade vem visitar e abençoar o opres sor estrangeiro, aquele que des fru ta o sofrimento alheio ou vem visitar o povo natural oprimido, aquele que so fre?” As contradições não somente acon tecem entre o comunismo e o capi talismo ou entre a direita e a esquerda, mas também “na alternativa política vital, primeira e necessária, que está for mada por duas opções: liberdade dos povos contra o colonialismo eu ropeu”.
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Abril de 2009, tem como fonte o Jornal Estado de Minas (3-2-85).
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
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Índios Fazem Devolução da Bíblia em1985 – Para João Paulo II
Esta matéria foi adicionada a nossas postagens por tratar-se de um fato muito relevante na cultura religiosa dos Índios Bolivianos.
LA PAZ – Os índios dos Andes e da América decidiram “aproveitar a vi sita” do Papa João Paulo para devolver-lhe a Bíblia, pois, “em cinco séculos, ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça”, segundo uma carta de dirigentes indígenas bolivianos enviada ao Sumo Pontífice. “Por favor, leve a sua Bíblia e a dê aos nossos opressores, cujos corações e cérebros precisam mais de seus preceitos morais”, acres centam os índios na carta enviada ao Papa, que foi divulgada ontem em La Paz, assinada por Máximo Flores, do Movimento Índio do Kallasuyo (Aymara) e Evmo Valeriano, do Partido Índio (Ay mara) e Ramiro Reynaga, do Movi mento Índio Tupac Katari (Kheswa), representando as comunidades da Bolívia e do Peru.
Reynaga disse que quando o Papa se encontrar em Cuzco, capital do anti go império Inca, os índios lhe devol verão os evangelhos levados por colo ni za dores para oprimir os povos ameri canos, e destruirão publicamente seus vestidos “ocidentais” para vestir seus trajes típicos. Ao tornar pública a carta ao Papa, o dirigente índio disse que “co mo parte do intercâmbio colonial imposto, recebemos a Bíblia, que foi a arma ideológica do assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e matava corpos de índios, de noite se tornava a cruz que atacava a alma indígena”.
A carta destaca que os índios que podem saudar o Papa João Paulo quan do chegar ao território de Tawan tinsuyu, milenar por manter os pre ceitos de paz e humanidade, e acres centa: “Apesar de nossa enorme quanti dade de minerais, petróleo, campos de plantação e outras riquezas, somos povos famintos, doentes, ignorantes, fanáticos por esta ou aquela seita, reli giosa ou anti-religiosa”.
Em seguida, afir ma que desde a chegada de Colombo à América, impõe-se uma cultura, um idioma, uma religião, alguns valores que correspondiam à Eu ropa, a mesma que gerou tanto o co munismo totalitário quanto o capitalismo injusto.
E agora, afirma o documento, “Sua San tidade vem visitar e abençoar o opres sor estrangeiro, aquele que des fru ta o sofrimento alheio ou vem visitar o povo natural oprimido, aquele que so fre?” As contradições não somente acon tecem entre o comunismo e o capi talismo ou entre a direita e a esquerda, mas também “na alternativa política vital, primeira e necessária, que está for mada por duas opções: liberdade dos povos contra o colonialismo eu ropeu”.
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Abril de 2009, tem como fonte o Jornal Estado de Minas (3-2-85).
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
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Índios Fazem Devolução da Bíblia em1985 – Para João Paulo II
Esta matéria foi adicionada a nossas postagens por tratar-se de um fato muito relevante na cultura religiosa dos Índios Bolivianos.
LA PAZ – Os índios dos Andes e da América decidiram “aproveitar a vi sita” do Papa João Paulo para devolver-lhe a Bíblia, pois, “em cinco séculos, ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça”, segundo uma carta de dirigentes indígenas bolivianos enviada ao Sumo Pontífice. “Por favor, leve a sua Bíblia e a dê aos nossos opressores, cujos corações e cérebros precisam mais de seus preceitos morais”, acres centam os índios na carta enviada ao Papa, que foi divulgada ontem em La Paz, assinada por Máximo Flores, do Movimento Índio do Kallasuyo (Aymara) e Evmo Valeriano, do Partido Índio (Ay mara) e Ramiro Reynaga, do Movi mento Índio Tupac Katari (Kheswa), representando as comunidades da Bolívia e do Peru.
Reynaga disse que quando o Papa se encontrar em Cuzco, capital do anti go império Inca, os índios lhe devol verão os evangelhos levados por colo ni za dores para oprimir os povos ameri canos, e destruirão publicamente seus vestidos “ocidentais” para vestir seus trajes típicos. Ao tornar pública a carta ao Papa, o dirigente índio disse que “co mo parte do intercâmbio colonial imposto, recebemos a Bíblia, que foi a arma ideológica do assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e matava corpos de índios, de noite se tornava a cruz que atacava a alma indígena”.
A carta destaca que os índios que podem saudar o Papa João Paulo quan do chegar ao território de Tawan tinsuyu, milenar por manter os pre ceitos de paz e humanidade, e acres centa: “Apesar de nossa enorme quanti dade de minerais, petróleo, campos de plantação e outras riquezas, somos povos famintos, doentes, ignorantes, fanáticos por esta ou aquela seita, reli giosa ou anti-religiosa”.
Em seguida, afir ma que desde a chegada de Colombo à América, impõe-se uma cultura, um idioma, uma religião, alguns valores que correspondiam à Eu ropa, a mesma que gerou tanto o co munismo totalitário quanto o capitalismo injusto.
E agora, afirma o documento, “Sua San tidade vem visitar e abençoar o opres sor estrangeiro, aquele que des fru ta o sofrimento alheio ou vem visitar o povo natural oprimido, aquele que so fre?” As contradições não somente acon tecem entre o comunismo e o capi talismo ou entre a direita e a esquerda, mas também “na alternativa política vital, primeira e necessária, que está for mada por duas opções: liberdade dos povos contra o colonialismo eu ropeu”.
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Abril de 2009, tem como fonte o Jornal Estado de Minas (3-2-85).
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
Índios Fazem Devolução da Bíblia em1985 – Para João Paulo II
Esta matéria foi adicionada a nossas postagens por tratar-se de um fato muito relevante na cultura religiosa dos Índios Bolivianos.
LA PAZ – Os índios dos Andes e da América decidiram “aproveitar a vi sita” do Papa João Paulo para devolver-lhe a Bíblia, pois, “em cinco séculos, ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça”, segundo uma carta de dirigentes indígenas bolivianos enviada ao Sumo Pontífice. “Por favor, leve a sua Bíblia e a dê aos nossos opressores, cujos corações e cérebros precisam mais de seus preceitos morais”, acres centam os índios na carta enviada ao Papa, que foi divulgada ontem em La Paz, assinada por Máximo Flores, do Movimento Índio do Kallasuyo (Aymara) e Evmo Valeriano, do Partido Índio (Ay mara) e Ramiro Reynaga, do Movi mento Índio Tupac Katari (Kheswa), representando as comunidades da Bolívia e do Peru.
Reynaga disse que quando o Papa se encontrar em Cuzco, capital do anti go império Inca, os índios lhe devol verão os evangelhos levados por colo ni za dores para oprimir os povos ameri canos, e destruirão publicamente seus vestidos “ocidentais” para vestir seus trajes típicos. Ao tornar pública a carta ao Papa, o dirigente índio disse que “co mo parte do intercâmbio colonial imposto, recebemos a Bíblia, que foi a arma ideológica do assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e matava corpos de índios, de noite se tornava a cruz que atacava a alma indígena”.
A carta destaca que os índios que podem saudar o Papa João Paulo quan do chegar ao território de Tawan tinsuyu, milenar por manter os pre ceitos de paz e humanidade, e acres centa: “Apesar de nossa enorme quanti dade de minerais, petróleo, campos de plantação e outras riquezas, somos povos famintos, doentes, ignorantes, fanáticos por esta ou aquela seita, reli giosa ou anti-religiosa”.
Em seguida, afir ma que desde a chegada de Colombo à América, impõe-se uma cultura, um idioma, uma religião, alguns valores que correspondiam à Eu ropa, a mesma que gerou tanto o co munismo totalitário quanto o capitalismo injusto.
E agora, afirma o documento, “Sua San tidade vem visitar e abençoar o opres sor estrangeiro, aquele que des fru ta o sofrimento alheio ou vem visitar o povo natural oprimido, aquele que so fre?” As contradições não somente acon tecem entre o comunismo e o capi talismo ou entre a direita e a esquerda, mas também “na alternativa política vital, primeira e necessária, que está for mada por duas opções: liberdade dos povos contra o colonialismo eu ropeu”.
Texto publicado no Jornal de Umbanda Sagrada em Abril de 2009, tem como fonte o Jornal Estado de Minas (3-2-85).
Paz Amor e Harmonia
Emidio de Ogum
http://espadadeogum.blogspot.com
Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito…..
Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco.
Como cita Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco ,cabe ressaltar que os africanos, que foram transportados como escravos para o Brasil, pertenciam a tribos (ou nações) distintas, tais como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras. E cada uma delas possuía as suas línguas (ou dialetos), os seus costumes (conselho de anciãos, festas), e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o seu Muchino riá Congo), e reinar sobre as pessoas das demais nações da África, fossem elas crioulas ou africanas, livres ou escravas. Neste sentido, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, autorizando a coroação de um rei do Congo, em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Foi para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal, quanto dos familiares e amigos) que os escravos trataram de se unir no novo habitat, harmonizando os seus ritos ancestrais, da melhor forma possível. Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através das quais os negros podiam expressar as suas necessidades de defesa e proteção, os seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade dos Homens Pretos eram constituídas, então, por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Sendo assim, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram, até, a ser proibidos pela Inquisição.
Construída pelos jesuítas no século XVIII, a igreja era o centro dos festejos de tradição africana, como a Taieira e a Chegança. Atualmente ainda se realiza a Procissão dos Fogaréus e a Chegança, com participação exclusiva dos homens. Monumento histórico tombado pelo Iphan.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. E essa tendência associativa, advinda dos quilombos (que se situavam em pleno meio rural), estendeu-se, também, às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com os rituais e as procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, os símbolos religiosos, as bonecas enfeitadas, os jacarés, os gatos, os dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos. No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou, com os seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que se fizeram dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval,mais antes de falar sobre o Maracatu,vamos recordar um pouco das raizes dos negros,da africa e algumas cidades importantes.
Segundo Alberto da Costa e Silva ,a percepção européia da África era a de um continente vazio, já que quase não tinha brancos, um continente vazio a pedir povoamento e inversões. E, na Europa, sobejavam gente e dinheiro. A África aparecia aos europeus como um El Dorado, com o ouro de Buré, de Lobi, do país achanti e de Sofala, com manadas infindáveis de elefantes e uma infindável produção de marfim, com cobre, ferro e estanho, com alúmen, almíscar, cera, borracha e óleos vegetais, e com extensas terras por cultivar.
A África só abria para o exterior um pouco da casca. Assim fora desde sempre. O estrangeiro se parava no Sudd, ao sul da Núbia, em Ualata, Gana, Gaô, Tombuctu e outros caravançarais do Sael, em Quiloa, Mombaça, Angoche, Zanzibar e iguais feitorias do Índico e, desde a abertura do Atlântico, nos entrepostos e fortins de Bissau, El Mina, Ajudá, Luanda, Benguela e tantos mais. Até meados do século XIX, o europeu só avançava alguns passos para fora de seus muros e paliçadas em algumas poucas áreas e, na maior parte dos casos, com o consentimento e o apoio dos africanos, ou sob sua vigilância.
O que seria de estranhar-se é que assim não fosse, tão intensas foram as relações e as trocas entre as duas margens do Atlântico. O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano.
Arquitetura brasileira,sobrado clássico em lagos,Nigéria.E comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como, entre nós, esquecemos o quanto nossa vida está impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupado os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história.
Isso não impediu que se fossem estabelecendo, desde o século XVII, mas sobretudo a partir do XVIII, fortes vínculos entre certos pontos do litoral africano e as costas atlânticas das Américas, como conseqüência do tráfico de escravos. O comércio de braços humanos não aproximou apenas as praias que ficavam frente a frente, mas estendeu sertão adentro o seu alinhavado, uma vez que muitos dos escravos trazidos para o Brasil e que foram trabalhar em Minas ou Goiás vieram de regiões do interior do continente africano, das savanas e das bordas dos desertos.
Não eram, portanto, falsos, como pareceram a tantos leitores e críticos, os versos em que Castro Alves se referia a escravos como vindos de regiões áridas. O poeta, que tinha familiares envolvidos no tráfico, sabia do que falava, quando em O Navio Negreiro,A Canção Ao Africano, disse, da terra deste, que ”o sol faz lá tudo em fogo, / faz em brasa toda a areia”. descreveu os cativos a dançarem no convés como “os filhos do deserto / onde a terra esposa a luz, / onde voa em campo aberto / a tribo dos homens nus …” Ou quando, emNo território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos, buscaram, algumas vezes, reconstruir as estruturas políticas e religiosas das terras de onde haviam partido. Isso terse-ia verificado — para citar o caso mais conhecido — com Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé. Passada às mãos dos traficantes pelo rei Adandozã, ele teria refeito os seus altares e a sua Corte na Casa das Minas (ou Querebetam de Zomadonu), em São Luís do Maranhão . Outros sonharam voltar à África e reconquistar as posições perdidas, não se excluindo que hajam conspirado para isso. Não faltaria quem lhes levasse as mensagens a adeptos e descontentes na terra natal, pois a tripulação dos navios negreiros era em grande parte africana. Um desses príncipes quase logrou tornar real o sonho. Chamava-se Fruku, no Danxomé, e foi vendido ao Brasil pelo rei Tegbesu, provavelmente para permitir que Kpengla ascendesse ao trono. Viveu no Brasil vinte e quatro anos e voltou à Costa dos Escravos com o nome de Dom Jerônimo. E como Dom Jerônimo, o brasileiro, o príncipe Fruku disputou o trono do Danxomé, após a morte de Kpengla, em 1789, e só por pouco o perdeu para Agonglo.
Repito: muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice-versa. Os contatos através do oceano eram constantes: os cativos que chegavam traziam notícias de suas nações, e os marinheiros, os mercadores e os ex-escravos de retorno levavam as novas do Brasil e dos africanos que aqui viviam para uma África que era ainda, no início do século XIX, um continente sem senhores externos.
De colônias havia somente o Cabo da Boa Esperança e as possessões portuguesas. Não tinham elas, porém, as dimensões territoriais com que figurariam depois nos mapas. Cada uma era apenas uma coleção de pequenas cidades, vilas, vilarejos e entrepostos comerciais, com restrito acesso às terras que a circundavam e ainda menor controle efetivo sobre elas. Os numerosos estabelecimentos europeus encravados em outros pontos da Costa pagavam aluguel ou direitos de comércio aos reis, régulos ou chefes locais. Feitorias mercantis, quase todas dedicadas primordialmente ao tráfico negreiro, como Saint-Louis, Goréa, Cachéu, Bissau, El Mina e Cape Coast, suas populações continham pequena quantidade de mulatos. Esses eram mais numerosos nas comunidades fundadas por ex-escravos retornados do Brasil, Cuba e Venezuela, como Atouetá e Porto Seguro, e nos bairros brasileiros de Acra, Agoué, Ajuda, Porto Novo, Badagri e Lagos.
Havia ainda o caso especial de Freetown, na Serra Leoa, onde os ingleses colocaram, como colonos, no reino temne de Koya, ex-escravos que combateram ao lado deles na guerra pela Independência dos Estados Unidos. O exemplo seria seguido, mais tarde, em Bathurst, Monrovia e Libreville. Esses refúgios para ex-escravos transformaram-se em embriões de colônias — a da Serra Leoa já em 1808 — e de uma república nos moldes americanos, a da Libéria.
A África, sempre houve nações: povos unidos pelo sentimento de origem, e língua, história, crenças, desejo de viver em comum e igual vontade de destino. E sempre houve noções que se cristalizaram em estados. Basta lembrar Gana, construída pelos soninquês, e o Mali, com seu núcleo mandinga. Mas o preconceito teima em chamar tribos às nações africanas, sem ter em conta a realidade de que não podem ser tribos grupos humanos de mais de 60 milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile e da Suécia, quando não, da Argentina e da Espanha.
O conceito de nação podia, aliás, ser ainda mais profundo, na África, do que o enunciado por Renan. Assim no Danxomé. Mais que um estado-nação, o Danxomé era uma realidade espiritual: a soma dos tons mortos, desde o início dos séculos, com os vivos e com os que ainda haviam de nascer. A nação desdobrava-se no tempo sob disfarce de eternidade: dela e de sua representação como estado não se excluíam ancestrais e vindouros.
África é um continente maciço. As linhas de seu contorno são simples e precisas.
Desenham um litoral sem grandes reentrâncias ou saliên-cias, quase sem golfos, baías, penínsulas, ou pontas estreitas. Ao norte, ogolfo de Gabés e o golfo de Sidra ou Sirtes; ao sul, as baías de Delagoa,Walfish e Mossel; no golfo da Guiné, os golfos do Benim e Biafra; junto aGibraltar, o cabo Spartel; frente às Canárias, o cabo Jubi; na Mauritânia, o cabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Boa Esperança e das Agulhas; no extremo da península da Somália, o cabo Guardafui.
Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta para o Mediterrâneo,não se compara às margens européia e asiática daquele mar. A concisão da costa norte-africana contrasta com a complexidade e a exuberância dos lito-rais mediterrânicos da Europa e da Ásia, a se agitarem e fragmentarem, ner-vosos, sobre o mapa, enquanto, na margem sul, há uma aspiração de simpli-cidade e repouso.
Paz Amor e Harmonia Emidio de Ogumhttp://espadadeogum.blogspot.com
Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito…..
Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco.
Como cita Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco ,cabe ressaltar que os africanos, que foram transportados como escravos para o Brasil, pertenciam a tribos (ou nações) distintas, tais como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras. E cada uma delas possuía as suas línguas (ou dialetos), os seus costumes (conselho de anciãos, festas), e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o seu Muchino riá Congo), e reinar sobre as pessoas das demais nações da África, fossem elas crioulas ou africanas, livres ou escravas. Neste sentido, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, autorizando a coroação de um rei do Congo, em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Foi para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal, quanto dos familiares e amigos) que os escravos trataram de se unir no novo habitat, harmonizando os seus ritos ancestrais, da melhor forma possível. Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através das quais os negros podiam expressar as suas necessidades de defesa e proteção, os seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade dos Homens Pretos eram constituídas, então, por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Sendo assim, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram, até, a ser proibidos pela Inquisição.
Construída pelos jesuítas no século XVIII, a igreja era o centro dos festejos de tradição africana, como a Taieira e a Chegança. Atualmente ainda se realiza a Procissão dos Fogaréus e a Chegança, com participação exclusiva dos homens. Monumento histórico tombado pelo Iphan.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. E essa tendência associativa, advinda dos quilombos (que se situavam em pleno meio rural), estendeu-se, também, às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com os rituais e as procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, os símbolos religiosos, as bonecas enfeitadas, os jacarés, os gatos, os dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos. No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou, com os seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que se fizeram dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval,mais antes de falar sobre o Maracatu,vamos recordar um pouco das raizes dos negros,da africa e algumas cidades importantes.
Segundo Alberto da Costa e Silva ,a percepção européia da África era a de um continente vazio, já que quase não tinha brancos, um continente vazio a pedir povoamento e inversões. E, na Europa, sobejavam gente e dinheiro. A África aparecia aos europeus como um El Dorado, com o ouro de Buré, de Lobi, do país achanti e de Sofala, com manadas infindáveis de elefantes e uma infindável produção de marfim, com cobre, ferro e estanho, com alúmen, almíscar, cera, borracha e óleos vegetais, e com extensas terras por cultivar.
A África só abria para o exterior um pouco da casca. Assim fora desde sempre. O estrangeiro se parava no Sudd, ao sul da Núbia, em Ualata, Gana, Gaô, Tombuctu e outros caravançarais do Sael, em Quiloa, Mombaça, Angoche, Zanzibar e iguais feitorias do Índico e, desde a abertura do Atlântico, nos entrepostos e fortins de Bissau, El Mina, Ajudá, Luanda, Benguela e tantos mais. Até meados do século XIX, o europeu só avançava alguns passos para fora de seus muros e paliçadas em algumas poucas áreas e, na maior parte dos casos, com o consentimento e o apoio dos africanos, ou sob sua vigilância.
O que seria de estranhar-se é que assim não fosse, tão intensas foram as relações e as trocas entre as duas margens do Atlântico. O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano.
Arquitetura brasileira,sobrado clássico em lagos,Nigéria.E comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como, entre nós, esquecemos o quanto nossa vida está impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupado os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história.
Isso não impediu que se fossem estabelecendo, desde o século XVII, mas sobretudo a partir do XVIII, fortes vínculos entre certos pontos do litoral africano e as costas atlânticas das Américas, como conseqüência do tráfico de escravos. O comércio de braços humanos não aproximou apenas as praias que ficavam frente a frente, mas estendeu sertão adentro o seu alinhavado, uma vez que muitos dos escravos trazidos para o Brasil e que foram trabalhar em Minas ou Goiás vieram de regiões do interior do continente africano, das savanas e das bordas dos desertos.
Não eram, portanto, falsos, como pareceram a tantos leitores e críticos, os versos em que Castro Alves se referia a escravos como vindos de regiões áridas. O poeta, que tinha familiares envolvidos no tráfico, sabia do que falava, quando em O Navio Negreiro,A Canção Ao Africano, disse, da terra deste, que ”o sol faz lá tudo em fogo, / faz em brasa toda a areia”. descreveu os cativos a dançarem no convés como “os filhos do deserto / onde a terra esposa a luz, / onde voa em campo aberto / a tribo dos homens nus …” Ou quando, emNo território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos, buscaram, algumas vezes, reconstruir as estruturas políticas e religiosas das terras de onde haviam partido. Isso terse-ia verificado — para citar o caso mais conhecido — com Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé. Passada às mãos dos traficantes pelo rei Adandozã, ele teria refeito os seus altares e a sua Corte na Casa das Minas (ou Querebetam de Zomadonu), em São Luís do Maranhão . Outros sonharam voltar à África e reconquistar as posições perdidas, não se excluindo que hajam conspirado para isso. Não faltaria quem lhes levasse as mensagens a adeptos e descontentes na terra natal, pois a tripulação dos navios negreiros era em grande parte africana. Um desses príncipes quase logrou tornar real o sonho. Chamava-se Fruku, no Danxomé, e foi vendido ao Brasil pelo rei Tegbesu, provavelmente para permitir que Kpengla ascendesse ao trono. Viveu no Brasil vinte e quatro anos e voltou à Costa dos Escravos com o nome de Dom Jerônimo. E como Dom Jerônimo, o brasileiro, o príncipe Fruku disputou o trono do Danxomé, após a morte de Kpengla, em 1789, e só por pouco o perdeu para Agonglo.
Repito: muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice-versa. Os contatos através do oceano eram constantes: os cativos que chegavam traziam notícias de suas nações, e os marinheiros, os mercadores e os ex-escravos de retorno levavam as novas do Brasil e dos africanos que aqui viviam para uma África que era ainda, no início do século XIX, um continente sem senhores externos.
De colônias havia somente o Cabo da Boa Esperança e as possessões portuguesas. Não tinham elas, porém, as dimensões territoriais com que figurariam depois nos mapas. Cada uma era apenas uma coleção de pequenas cidades, vilas, vilarejos e entrepostos comerciais, com restrito acesso às terras que a circundavam e ainda menor controle efetivo sobre elas. Os numerosos estabelecimentos europeus encravados em outros pontos da Costa pagavam aluguel ou direitos de comércio aos reis, régulos ou chefes locais. Feitorias mercantis, quase todas dedicadas primordialmente ao tráfico negreiro, como Saint-Louis, Goréa, Cachéu, Bissau, El Mina e Cape Coast, suas populações continham pequena quantidade de mulatos. Esses eram mais numerosos nas comunidades fundadas por ex-escravos retornados do Brasil, Cuba e Venezuela, como Atouetá e Porto Seguro, e nos bairros brasileiros de Acra, Agoué, Ajuda, Porto Novo, Badagri e Lagos.
Havia ainda o caso especial de Freetown, na Serra Leoa, onde os ingleses colocaram, como colonos, no reino temne de Koya, ex-escravos que combateram ao lado deles na guerra pela Independência dos Estados Unidos. O exemplo seria seguido, mais tarde, em Bathurst, Monrovia e Libreville. Esses refúgios para ex-escravos transformaram-se em embriões de colônias — a da Serra Leoa já em 1808 — e de uma república nos moldes americanos, a da Libéria.
A África, sempre houve nações: povos unidos pelo sentimento de origem, e língua, história, crenças, desejo de viver em comum e igual vontade de destino. E sempre houve noções que se cristalizaram em estados. Basta lembrar Gana, construída pelos soninquês, e o Mali, com seu núcleo mandinga. Mas o preconceito teima em chamar tribos às nações africanas, sem ter em conta a realidade de que não podem ser tribos grupos humanos de mais de 60 milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile e da Suécia, quando não, da Argentina e da Espanha.
O conceito de nação podia, aliás, ser ainda mais profundo, na África, do que o enunciado por Renan. Assim no Danxomé. Mais que um estado-nação, o Danxomé era uma realidade espiritual: a soma dos tons mortos, desde o início dos séculos, com os vivos e com os que ainda haviam de nascer. A nação desdobrava-se no tempo sob disfarce de eternidade: dela e de sua representação como estado não se excluíam ancestrais e vindouros.
África é um continente maciço. As linhas de seu contorno são simples e precisas.
Desenham um litoral sem grandes reentrâncias ou saliên-cias, quase sem golfos, baías, penínsulas, ou pontas estreitas. Ao norte, ogolfo de Gabés e o golfo de Sidra ou Sirtes; ao sul, as baías de Delagoa,Walfish e Mossel; no golfo da Guiné, os golfos do Benim e Biafra; junto aGibraltar, o cabo Spartel; frente às Canárias, o cabo Jubi; na Mauritânia, o cabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Boa Esperança e das Agulhas; no extremo da península da Somália, o cabo Guardafui.
Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta para o Mediterrâneo,não se compara às margens européia e asiática daquele mar. A concisão da costa norte-africana contrasta com a complexidade e a exuberância dos lito-rais mediterrânicos da Europa e da Ásia, a se agitarem e fragmentarem, ner-vosos, sobre o mapa, enquanto, na margem sul, há uma aspiração de simpli-cidade e repouso.
Paz Amor e Harmonia Emidio de Ogumhttp://espadadeogum.blogspot.com
Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito…..
Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco.
Como cita Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco ,cabe ressaltar que os africanos, que foram transportados como escravos para o Brasil, pertenciam a tribos (ou nações) distintas, tais como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras. E cada uma delas possuía as suas línguas (ou dialetos), os seus costumes (conselho de anciãos, festas), e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o seu Muchino riá Congo), e reinar sobre as pessoas das demais nações da África, fossem elas crioulas ou africanas, livres ou escravas. Neste sentido, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, autorizando a coroação de um rei do Congo, em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Foi para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal, quanto dos familiares e amigos) que os escravos trataram de se unir no novo habitat, harmonizando os seus ritos ancestrais, da melhor forma possível. Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através das quais os negros podiam expressar as suas necessidades de defesa e proteção, os seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade dos Homens Pretos eram constituídas, então, por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Sendo assim, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram, até, a ser proibidos pela Inquisição.
Construída pelos jesuítas no século XVIII, a igreja era o centro dos festejos de tradição africana, como a Taieira e a Chegança. Atualmente ainda se realiza a Procissão dos Fogaréus e a Chegança, com participação exclusiva dos homens. Monumento histórico tombado pelo Iphan.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. E essa tendência associativa, advinda dos quilombos (que se situavam em pleno meio rural), estendeu-se, também, às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com os rituais e as procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, os símbolos religiosos, as bonecas enfeitadas, os jacarés, os gatos, os dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos. No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou, com os seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que se fizeram dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval,mais antes de falar sobre o Maracatu,vamos recordar um pouco das raizes dos negros,da africa e algumas cidades importantes.
Segundo Alberto da Costa e Silva ,a percepção européia da África era a de um continente vazio, já que quase não tinha brancos, um continente vazio a pedir povoamento e inversões. E, na Europa, sobejavam gente e dinheiro. A África aparecia aos europeus como um El Dorado, com o ouro de Buré, de Lobi, do país achanti e de Sofala, com manadas infindáveis de elefantes e uma infindável produção de marfim, com cobre, ferro e estanho, com alúmen, almíscar, cera, borracha e óleos vegetais, e com extensas terras por cultivar.
A África só abria para o exterior um pouco da casca. Assim fora desde sempre. O estrangeiro se parava no Sudd, ao sul da Núbia, em Ualata, Gana, Gaô, Tombuctu e outros caravançarais do Sael, em Quiloa, Mombaça, Angoche, Zanzibar e iguais feitorias do Índico e, desde a abertura do Atlântico, nos entrepostos e fortins de Bissau, El Mina, Ajudá, Luanda, Benguela e tantos mais. Até meados do século XIX, o europeu só avançava alguns passos para fora de seus muros e paliçadas em algumas poucas áreas e, na maior parte dos casos, com o consentimento e o apoio dos africanos, ou sob sua vigilância.
O que seria de estranhar-se é que assim não fosse, tão intensas foram as relações e as trocas entre as duas margens do Atlântico. O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano.
Arquitetura brasileira,sobrado clássico em lagos,Nigéria.E comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como, entre nós, esquecemos o quanto nossa vida está impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupado os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história.
Isso não impediu que se fossem estabelecendo, desde o século XVII, mas sobretudo a partir do XVIII, fortes vínculos entre certos pontos do litoral africano e as costas atlânticas das Américas, como conseqüência do tráfico de escravos. O comércio de braços humanos não aproximou apenas as praias que ficavam frente a frente, mas estendeu sertão adentro o seu alinhavado, uma vez que muitos dos escravos trazidos para o Brasil e que foram trabalhar em Minas ou Goiás vieram de regiões do interior do continente africano, das savanas e das bordas dos desertos.
Não eram, portanto, falsos, como pareceram a tantos leitores e críticos, os versos em que Castro Alves se referia a escravos como vindos de regiões áridas. O poeta, que tinha familiares envolvidos no tráfico, sabia do que falava, quando em O Navio Negreiro,A Canção Ao Africano, disse, da terra deste, que ”o sol faz lá tudo em fogo, / faz em brasa toda a areia”. descreveu os cativos a dançarem no convés como “os filhos do deserto / onde a terra esposa a luz, / onde voa em campo aberto / a tribo dos homens nus …” Ou quando, emNo território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos, buscaram, algumas vezes, reconstruir as estruturas políticas e religiosas das terras de onde haviam partido. Isso terse-ia verificado — para citar o caso mais conhecido — com Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé. Passada às mãos dos traficantes pelo rei Adandozã, ele teria refeito os seus altares e a sua Corte na Casa das Minas (ou Querebetam de Zomadonu), em São Luís do Maranhão . Outros sonharam voltar à África e reconquistar as posições perdidas, não se excluindo que hajam conspirado para isso. Não faltaria quem lhes levasse as mensagens a adeptos e descontentes na terra natal, pois a tripulação dos navios negreiros era em grande parte africana. Um desses príncipes quase logrou tornar real o sonho. Chamava-se Fruku, no Danxomé, e foi vendido ao Brasil pelo rei Tegbesu, provavelmente para permitir que Kpengla ascendesse ao trono. Viveu no Brasil vinte e quatro anos e voltou à Costa dos Escravos com o nome de Dom Jerônimo. E como Dom Jerônimo, o brasileiro, o príncipe Fruku disputou o trono do Danxomé, após a morte de Kpengla, em 1789, e só por pouco o perdeu para Agonglo.
Repito: muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice-versa. Os contatos através do oceano eram constantes: os cativos que chegavam traziam notícias de suas nações, e os marinheiros, os mercadores e os ex-escravos de retorno levavam as novas do Brasil e dos africanos que aqui viviam para uma África que era ainda, no início do século XIX, um continente sem senhores externos.
De colônias havia somente o Cabo da Boa Esperança e as possessões portuguesas. Não tinham elas, porém, as dimensões territoriais com que figurariam depois nos mapas. Cada uma era apenas uma coleção de pequenas cidades, vilas, vilarejos e entrepostos comerciais, com restrito acesso às terras que a circundavam e ainda menor controle efetivo sobre elas. Os numerosos estabelecimentos europeus encravados em outros pontos da Costa pagavam aluguel ou direitos de comércio aos reis, régulos ou chefes locais. Feitorias mercantis, quase todas dedicadas primordialmente ao tráfico negreiro, como Saint-Louis, Goréa, Cachéu, Bissau, El Mina e Cape Coast, suas populações continham pequena quantidade de mulatos. Esses eram mais numerosos nas comunidades fundadas por ex-escravos retornados do Brasil, Cuba e Venezuela, como Atouetá e Porto Seguro, e nos bairros brasileiros de Acra, Agoué, Ajuda, Porto Novo, Badagri e Lagos.
Havia ainda o caso especial de Freetown, na Serra Leoa, onde os ingleses colocaram, como colonos, no reino temne de Koya, ex-escravos que combateram ao lado deles na guerra pela Independência dos Estados Unidos. O exemplo seria seguido, mais tarde, em Bathurst, Monrovia e Libreville. Esses refúgios para ex-escravos transformaram-se em embriões de colônias — a da Serra Leoa já em 1808 — e de uma república nos moldes americanos, a da Libéria.
A África, sempre houve nações: povos unidos pelo sentimento de origem, e língua, história, crenças, desejo de viver em comum e igual vontade de destino. E sempre houve noções que se cristalizaram em estados. Basta lembrar Gana, construída pelos soninquês, e o Mali, com seu núcleo mandinga. Mas o preconceito teima em chamar tribos às nações africanas, sem ter em conta a realidade de que não podem ser tribos grupos humanos de mais de 60 milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile e da Suécia, quando não, da Argentina e da Espanha.
O conceito de nação podia, aliás, ser ainda mais profundo, na África, do que o enunciado por Renan. Assim no Danxomé. Mais que um estado-nação, o Danxomé era uma realidade espiritual: a soma dos tons mortos, desde o início dos séculos, com os vivos e com os que ainda haviam de nascer. A nação desdobrava-se no tempo sob disfarce de eternidade: dela e de sua representação como estado não se excluíam ancestrais e vindouros.
África é um continente maciço. As linhas de seu contorno são simples e precisas.
Desenham um litoral sem grandes reentrâncias ou saliên-cias, quase sem golfos, baías, penínsulas, ou pontas estreitas. Ao norte, ogolfo de Gabés e o golfo de Sidra ou Sirtes; ao sul, as baías de Delagoa,Walfish e Mossel; no golfo da Guiné, os golfos do Benim e Biafra; junto aGibraltar, o cabo Spartel; frente às Canárias, o cabo Jubi; na Mauritânia, o cabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Boa Esperança e das Agulhas; no extremo da península da Somália, o cabo Guardafui.
Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta para o Mediterrâneo,não se compara às margens européia e asiática daquele mar. A concisão da costa norte-africana contrasta com a complexidade e a exuberância dos lito-rais mediterrânicos da Europa e da Ásia, a se agitarem e fragmentarem, ner-vosos, sobre o mapa, enquanto, na margem sul, há uma aspiração de simpli-cidade e repouso.
Paz Amor e Harmonia Emidio de Ogumhttp://espadadeogum.blogspot.com
Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito…..
Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco.
Como cita Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco ,cabe ressaltar que os africanos, que foram transportados como escravos para o Brasil, pertenciam a tribos (ou nações) distintas, tais como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras. E cada uma delas possuía as suas línguas (ou dialetos), os seus costumes (conselho de anciãos, festas), e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o seu Muchino riá Congo), e reinar sobre as pessoas das demais nações da África, fossem elas crioulas ou africanas, livres ou escravas. Neste sentido, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, autorizando a coroação de um rei do Congo, em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Foi para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal, quanto dos familiares e amigos) que os escravos trataram de se unir no novo habitat, harmonizando os seus ritos ancestrais, da melhor forma possível. Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através das quais os negros podiam expressar as suas necessidades de defesa e proteção, os seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade dos Homens Pretos eram constituídas, então, por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Sendo assim, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram, até, a ser proibidos pela Inquisição.
Construída pelos jesuítas no século XVIII, a igreja era o centro dos festejos de tradição africana, como a Taieira e a Chegança. Atualmente ainda se realiza a Procissão dos Fogaréus e a Chegança, com participação exclusiva dos homens. Monumento histórico tombado pelo Iphan.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. E essa tendência associativa, advinda dos quilombos (que se situavam em pleno meio rural), estendeu-se, também, às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com os rituais e as procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, os símbolos religiosos, as bonecas enfeitadas, os jacarés, os gatos, os dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos. No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou, com os seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que se fizeram dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval,mais antes de falar sobre o Maracatu,vamos recordar um pouco das raizes dos negros,da africa e algumas cidades importantes.
Segundo Alberto da Costa e Silva ,a percepção européia da África era a de um continente vazio, já que quase não tinha brancos, um continente vazio a pedir povoamento e inversões. E, na Europa, sobejavam gente e dinheiro. A África aparecia aos europeus como um El Dorado, com o ouro de Buré, de Lobi, do país achanti e de Sofala, com manadas infindáveis de elefantes e uma infindável produção de marfim, com cobre, ferro e estanho, com alúmen, almíscar, cera, borracha e óleos vegetais, e com extensas terras por cultivar.
A África só abria para o exterior um pouco da casca. Assim fora desde sempre. O estrangeiro se parava no Sudd, ao sul da Núbia, em Ualata, Gana, Gaô, Tombuctu e outros caravançarais do Sael, em Quiloa, Mombaça, Angoche, Zanzibar e iguais feitorias do Índico e, desde a abertura do Atlântico, nos entrepostos e fortins de Bissau, El Mina, Ajudá, Luanda, Benguela e tantos mais. Até meados do século XIX, o europeu só avançava alguns passos para fora de seus muros e paliçadas em algumas poucas áreas e, na maior parte dos casos, com o consentimento e o apoio dos africanos, ou sob sua vigilância.
O que seria de estranhar-se é que assim não fosse, tão intensas foram as relações e as trocas entre as duas margens do Atlântico. O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano.
Arquitetura brasileira,sobrado clássico em lagos,Nigéria.E comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como, entre nós, esquecemos o quanto nossa vida está impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupado os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história.
Isso não impediu que se fossem estabelecendo, desde o século XVII, mas sobretudo a partir do XVIII, fortes vínculos entre certos pontos do litoral africano e as costas atlânticas das Américas, como conseqüência do tráfico de escravos. O comércio de braços humanos não aproximou apenas as praias que ficavam frente a frente, mas estendeu sertão adentro o seu alinhavado, uma vez que muitos dos escravos trazidos para o Brasil e que foram trabalhar em Minas ou Goiás vieram de regiões do interior do continente africano, das savanas e das bordas dos desertos.
Não eram, portanto, falsos, como pareceram a tantos leitores e críticos, os versos em que Castro Alves se referia a escravos como vindos de regiões áridas. O poeta, que tinha familiares envolvidos no tráfico, sabia do que falava, quando em O Navio Negreiro,A Canção Ao Africano, disse, da terra deste, que ”o sol faz lá tudo em fogo, / faz em brasa toda a areia”. descreveu os cativos a dançarem no convés como “os filhos do deserto / onde a terra esposa a luz, / onde voa em campo aberto / a tribo dos homens nus …” Ou quando, emNo território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos, buscaram, algumas vezes, reconstruir as estruturas políticas e religiosas das terras de onde haviam partido. Isso terse-ia verificado — para citar o caso mais conhecido — com Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé. Passada às mãos dos traficantes pelo rei Adandozã, ele teria refeito os seus altares e a sua Corte na Casa das Minas (ou Querebetam de Zomadonu), em São Luís do Maranhão . Outros sonharam voltar à África e reconquistar as posições perdidas, não se excluindo que hajam conspirado para isso. Não faltaria quem lhes levasse as mensagens a adeptos e descontentes na terra natal, pois a tripulação dos navios negreiros era em grande parte africana. Um desses príncipes quase logrou tornar real o sonho. Chamava-se Fruku, no Danxomé, e foi vendido ao Brasil pelo rei Tegbesu, provavelmente para permitir que Kpengla ascendesse ao trono. Viveu no Brasil vinte e quatro anos e voltou à Costa dos Escravos com o nome de Dom Jerônimo. E como Dom Jerônimo, o brasileiro, o príncipe Fruku disputou o trono do Danxomé, após a morte de Kpengla, em 1789, e só por pouco o perdeu para Agonglo.
Repito: muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice-versa. Os contatos através do oceano eram constantes: os cativos que chegavam traziam notícias de suas nações, e os marinheiros, os mercadores e os ex-escravos de retorno levavam as novas do Brasil e dos africanos que aqui viviam para uma África que era ainda, no início do século XIX, um continente sem senhores externos.
De colônias havia somente o Cabo da Boa Esperança e as possessões portuguesas. Não tinham elas, porém, as dimensões territoriais com que figurariam depois nos mapas. Cada uma era apenas uma coleção de pequenas cidades, vilas, vilarejos e entrepostos comerciais, com restrito acesso às terras que a circundavam e ainda menor controle efetivo sobre elas. Os numerosos estabelecimentos europeus encravados em outros pontos da Costa pagavam aluguel ou direitos de comércio aos reis, régulos ou chefes locais. Feitorias mercantis, quase todas dedicadas primordialmente ao tráfico negreiro, como Saint-Louis, Goréa, Cachéu, Bissau, El Mina e Cape Coast, suas populações continham pequena quantidade de mulatos. Esses eram mais numerosos nas comunidades fundadas por ex-escravos retornados do Brasil, Cuba e Venezuela, como Atouetá e Porto Seguro, e nos bairros brasileiros de Acra, Agoué, Ajuda, Porto Novo, Badagri e Lagos.
Havia ainda o caso especial de Freetown, na Serra Leoa, onde os ingleses colocaram, como colonos, no reino temne de Koya, ex-escravos que combateram ao lado deles na guerra pela Independência dos Estados Unidos. O exemplo seria seguido, mais tarde, em Bathurst, Monrovia e Libreville. Esses refúgios para ex-escravos transformaram-se em embriões de colônias — a da Serra Leoa já em 1808 — e de uma república nos moldes americanos, a da Libéria.
A África, sempre houve nações: povos unidos pelo sentimento de origem, e língua, história, crenças, desejo de viver em comum e igual vontade de destino. E sempre houve noções que se cristalizaram em estados. Basta lembrar Gana, construída pelos soninquês, e o Mali, com seu núcleo mandinga. Mas o preconceito teima em chamar tribos às nações africanas, sem ter em conta a realidade de que não podem ser tribos grupos humanos de mais de 60 milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile e da Suécia, quando não, da Argentina e da Espanha.
O conceito de nação podia, aliás, ser ainda mais profundo, na África, do que o enunciado por Renan. Assim no Danxomé. Mais que um estado-nação, o Danxomé era uma realidade espiritual: a soma dos tons mortos, desde o início dos séculos, com os vivos e com os que ainda haviam de nascer. A nação desdobrava-se no tempo sob disfarce de eternidade: dela e de sua representação como estado não se excluíam ancestrais e vindouros.
África é um continente maciço. As linhas de seu contorno são simples e precisas.
Desenham um litoral sem grandes reentrâncias ou saliên-cias, quase sem golfos, baías, penínsulas, ou pontas estreitas. Ao norte, ogolfo de Gabés e o golfo de Sidra ou Sirtes; ao sul, as baías de Delagoa,Walfish e Mossel; no golfo da Guiné, os golfos do Benim e Biafra; junto aGibraltar, o cabo Spartel; frente às Canárias, o cabo Jubi; na Mauritânia, o cabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Boa Esperança e das Agulhas; no extremo da península da Somália, o cabo Guardafui.
Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta para o Mediterrâneo,não se compara às margens européia e asiática daquele mar. A concisão da costa norte-africana contrasta com a complexidade e a exuberância dos lito-rais mediterrânicos da Europa e da Ásia, a se agitarem e fragmentarem, ner-vosos, sobre o mapa, enquanto, na margem sul, há uma aspiração de simpli-cidade e repouso.
Paz Amor e Harmonia Emidio de Ogumhttp://espadadeogum.blogspot.com
Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito…..
Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco.
Como cita Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco ,cabe ressaltar que os africanos, que foram transportados como escravos para o Brasil, pertenciam a tribos (ou nações) distintas, tais como as de Angola, Benguela, Cambinda, Moçambique, Congo, Cassanges, entre outras. E cada uma delas possuía as suas línguas (ou dialetos), os seus costumes (conselho de anciãos, festas), e rituais sagrados e religiosos específicos (ritos de Xangô, festas dos mortos e festas dos reis magos).
No Congo, em particular, os negros possuíam certos privilégios, podendo eleger um rei (no idioma pátrio, o seu Muchino riá Congo), e reinar sobre as pessoas das demais nações da África, fossem elas crioulas ou africanas, livres ou escravas. Neste sentido, o primeiro compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, autorizando a coroação de um rei do Congo, em suas festas, está registrado no dia 8 de maio de 1711.
Foi para sobreviver à dor da escravidão e do exílio (tanto da terra natal, quanto dos familiares e amigos) que os escravos trataram de se unir no novo habitat, harmonizando os seus ritos ancestrais, da melhor forma possível. Dessa maneira, as agremiações religiosas representavam um elo importante, através das quais os negros podiam expressar as suas necessidades de defesa e proteção, os seus desejos de liberdade, de caridade para com o próximo e de solidariedade humana.
As festas da Irmandade dos Homens Pretos eram constituídas, então, por danças e batuques que não faziam parte da liturgia católica. Sendo assim, os rituais manifestados por esses irmãos chegaram, até, a ser proibidos pela Inquisição.
Construída pelos jesuítas no século XVIII, a igreja era o centro dos festejos de tradição africana, como a Taieira e a Chegança. Atualmente ainda se realiza a Procissão dos Fogaréus e a Chegança, com participação exclusiva dos homens. Monumento histórico tombado pelo Iphan.
Os quilombos, em particular, tanto o de Palmares quanto os demais, entre o Cabo de Santo Agostinho e o rio de São Francisco, eram expressões do espírito associativo dos africanos. E essa tendência associativa, advinda dos quilombos (que se situavam em pleno meio rural), estendeu-se, também, às zonas urbanas.
A Irmandade conservava o sistema de coroação presente na África, com os rituais e as procissões em maracatu, mantendo os arqueiros à frente, dois cordões de damas de honra, os símbolos religiosos, as bonecas enfeitadas, os jacarés, os gatos, os dignitários e, finalmente, o rei e a rainha do Congo, seguidos por músicos. No primeiro domingo de outubro de 1645, segundo os registros, Henrique Dias festejou, com os seus irmãos negros, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, todas as pompas de sua padroeira.
Também estão registrados nos livros da Irmandade, até o ano de 1888, todos os coroamentos que se fizeram dos reis e rainhas da Angola, do Congo e de Cambinda. Foi mediante essas coroações que se originou o maracatu, uma das manifestações mais belas e expressivas do folclore nordestino.
O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval,mais antes de falar sobre o Maracatu,vamos recordar um pouco das raizes dos negros,da africa e algumas cidades importantes.
Segundo Alberto da Costa e Silva ,a percepção européia da África era a de um continente vazio, já que quase não tinha brancos, um continente vazio a pedir povoamento e inversões. E, na Europa, sobejavam gente e dinheiro. A África aparecia aos europeus como um El Dorado, com o ouro de Buré, de Lobi, do país achanti e de Sofala, com manadas infindáveis de elefantes e uma infindável produção de marfim, com cobre, ferro e estanho, com alúmen, almíscar, cera, borracha e óleos vegetais, e com extensas terras por cultivar.
A África só abria para o exterior um pouco da casca. Assim fora desde sempre. O estrangeiro se parava no Sudd, ao sul da Núbia, em Ualata, Gana, Gaô, Tombuctu e outros caravançarais do Sael, em Quiloa, Mombaça, Angoche, Zanzibar e iguais feitorias do Índico e, desde a abertura do Atlântico, nos entrepostos e fortins de Bissau, El Mina, Ajudá, Luanda, Benguela e tantos mais. Até meados do século XIX, o europeu só avançava alguns passos para fora de seus muros e paliçadas em algumas poucas áreas e, na maior parte dos casos, com o consentimento e o apoio dos africanos, ou sob sua vigilância.
O que seria de estranhar-se é que assim não fosse, tão intensas foram as relações e as trocas entre as duas margens do Atlântico. O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano.
Arquitetura brasileira,sobrado clássico em lagos,Nigéria.E comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como, entre nós, esquecemos o quanto nossa vida está impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupado os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história.
Isso não impediu que se fossem estabelecendo, desde o século XVII, mas sobretudo a partir do XVIII, fortes vínculos entre certos pontos do litoral africano e as costas atlânticas das Américas, como conseqüência do tráfico de escravos. O comércio de braços humanos não aproximou apenas as praias que ficavam frente a frente, mas estendeu sertão adentro o seu alinhavado, uma vez que muitos dos escravos trazidos para o Brasil e que foram trabalhar em Minas ou Goiás vieram de regiões do interior do continente africano, das savanas e das bordas dos desertos.
Não eram, portanto, falsos, como pareceram a tantos leitores e críticos, os versos em que Castro Alves se referia a escravos como vindos de regiões áridas. O poeta, que tinha familiares envolvidos no tráfico, sabia do que falava, quando em O Navio Negreiro,A Canção Ao Africano, disse, da terra deste, que ”o sol faz lá tudo em fogo, / faz em brasa toda a areia”. descreveu os cativos a dançarem no convés como “os filhos do deserto / onde a terra esposa a luz, / onde voa em campo aberto / a tribo dos homens nus …” Ou quando, emNo território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos por seus desafetos como escravos, buscaram, algumas vezes, reconstruir as estruturas políticas e religiosas das terras de onde haviam partido. Isso terse-ia verificado — para citar o caso mais conhecido — com Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé. Passada às mãos dos traficantes pelo rei Adandozã, ele teria refeito os seus altares e a sua Corte na Casa das Minas (ou Querebetam de Zomadonu), em São Luís do Maranhão . Outros sonharam voltar à África e reconquistar as posições perdidas, não se excluindo que hajam conspirado para isso. Não faltaria quem lhes levasse as mensagens a adeptos e descontentes na terra natal, pois a tripulação dos navios negreiros era em grande parte africana. Um desses príncipes quase logrou tornar real o sonho. Chamava-se Fruku, no Danxomé, e foi vendido ao Brasil pelo rei Tegbesu, provavelmente para permitir que Kpengla ascendesse ao trono. Viveu no Brasil vinte e quatro anos e voltou à Costa dos Escravos com o nome de Dom Jerônimo. E como Dom Jerônimo, o brasileiro, o príncipe Fruku disputou o trono do Danxomé, após a morte de Kpengla, em 1789, e só por pouco o perdeu para Agonglo.
Repito: muito do que se passava na África Atlântica repercutia no Brasil, e vice-versa. Os contatos através do oceano eram constantes: os cativos que chegavam traziam notícias de suas nações, e os marinheiros, os mercadores e os ex-escravos de retorno levavam as novas do Brasil e dos africanos que aqui viviam para uma África que era ainda, no início do século XIX, um continente sem senhores externos.
De colônias havia somente o Cabo da Boa Esperança e as possessões portuguesas. Não tinham elas, porém, as dimensões territoriais com que figurariam depois nos mapas. Cada uma era apenas uma coleção de pequenas cidades, vilas, vilarejos e entrepostos comerciais, com restrito acesso às terras que a circundavam e ainda menor controle efetivo sobre elas. Os numerosos estabelecimentos europeus encravados em outros pontos da Costa pagavam aluguel ou direitos de comércio aos reis, régulos ou chefes locais. Feitorias mercantis, quase todas dedicadas primordialmente ao tráfico negreiro, como Saint-Louis, Goréa, Cachéu, Bissau, El Mina e Cape Coast, suas populações continham pequena quantidade de mulatos. Esses eram mais numerosos nas comunidades fundadas por ex-escravos retornados do Brasil, Cuba e Venezuela, como Atouetá e Porto Seguro, e nos bairros brasileiros de Acra, Agoué, Ajuda, Porto Novo, Badagri e Lagos.
Havia ainda o caso especial de Freetown, na Serra Leoa, onde os ingleses colocaram, como colonos, no reino temne de Koya, ex-escravos que combateram ao lado deles na guerra pela Independência dos Estados Unidos. O exemplo seria seguido, mais tarde, em Bathurst, Monrovia e Libreville. Esses refúgios para ex-escravos transformaram-se em embriões de colônias — a da Serra Leoa já em 1808 — e de uma república nos moldes americanos, a da Libéria.
A África, sempre houve nações: povos unidos pelo sentimento de origem, e língua, história, crenças, desejo de viver em comum e igual vontade de destino. E sempre houve noções que se cristalizaram em estados. Basta lembrar Gana, construída pelos soninquês, e o Mali, com seu núcleo mandinga. Mas o preconceito teima em chamar tribos às nações africanas, sem ter em conta a realidade de que não podem ser tribos grupos humanos de mais de 60 milhões de pessoas, como os hauçás, ou superiores ou semelhantes em número às populações da Bélgica, do Chile e da Suécia, quando não, da Argentina e da Espanha.
O conceito de nação podia, aliás, ser ainda mais profundo, na África, do que o enunciado por Renan. Assim no Danxomé. Mais que um estado-nação, o Danxomé era uma realidade espiritual: a soma dos tons mortos, desde o início dos séculos, com os vivos e com os que ainda haviam de nascer. A nação desdobrava-se no tempo sob disfarce de eternidade: dela e de sua representação como estado não se excluíam ancestrais e vindouros.
África é um continente maciço. As linhas de seu contorno são simples e precisas.
Desenham um litoral sem grandes reentrâncias ou saliên-cias, quase sem golfos, baías, penínsulas, ou pontas estreitas. Ao norte, ogolfo de Gabés e o golfo de Sidra ou Sirtes; ao sul, as baías de Delagoa,Walfish e Mossel; no golfo da Guiné, os golfos do Benim e Biafra; junto aGibraltar, o cabo Spartel; frente às Canárias, o cabo Jubi; na Mauritânia, o cabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Boa Esperança e das Agulhas; no extremo da península da Somália, o cabo Guardafui.
Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta para o Mediterrâneo,não se compara às margens européia e asiática daquele mar. A concisão da costa norte-africana contrasta com a complexidade e a exuberância dos lito-rais mediterrânicos da Europa e da Ásia, a se agitarem e fragmentarem, ner-vosos, sobre o mapa, enquanto, na margem sul, há uma aspiração de simpli-cidade e repouso.
Paz Amor e Harmonia Emidio de Ogumhttp://espadadeogum.blogspot.com